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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Noite Loba

O lobo solitário, ele espreita a noite. Sua pele é o frio escuro da mata. Sua alma está em seus olhos, seu espírito é revolto como a nuvem rápida e negra, imperceptível no ar. A caça, tem para si, se mostra como única opção, quando tudo mais não existe.
Quando ele se move, sua passagem é lenta, fria, calculada. O erro é a morte, a segurança, uma armadilha dissimulada. Poderia se esconder do próprio reflexo no espelho. A colina, o escuro, a solidão. É casa. Lado a lado com a Infalível, sabe que acreditar em algo além de si próprio não vale a pena.
Seus olhos se prendem num objetivo, único objetivo, única existência em todo o universo, é o foco. A respiração é ritmada e precisa, coração prestes a receber adrenalina num pulo. Os pelos eriçados, o corpo tenso e narinas dilatadas. Apenas um momento, acabou. E mais uma vez volta a ser noite.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Lágrimas de Dor

"Ao te ver chorar, ofereço meu ombro amigo. Mas ao sentir seus cabelos, penso em ter um ombro mais que amigo para ti. Ao ter você em meus braços, sinto suas lágrimas rolarem de encontro ao meu braço.

E neste exato momento elas são absorvidas pela minha pele, penetram na carne e já não pesam e vão de encontro a meus olhos, através do sangue, me fazendo compartilhar desta dor tua, tão minha agora. Eu, que te consolo, que te abraço, que te beijo o rosto, molho seus cabelos com lágrimas antes suas e que agora fecham o ciclo de dores compartilhadas por mim que te abraço, que te quero, mas não me deixo, de forma alguma, te mostrar tal sentimento, somente por medo de ferir esta nossa amizade tão íntima, só nossa.

Nossa e de nossas lágrimas."



(...das antigas.)

Passeio

 Cabisbaixo pela praça, anda como quem tivesse para onde ir. Desde que ouvira a música tocada no rádio semana passada, que se encontra assim, aéreo. Pendidos, seus cabelos por sobre os ombros escondem seu rosto e tatuagem, meio adolescente rebelde. A chave de casa, já em mãos, faz parecer que mora logo ali, mas não. Na verdade, tem andado segurando-a faz horas, sem saber exatamente o porque. Os pés não estão doendo, o sol não está tão quente, então ele continua a andar.
Sobre os ombros uma mochila; dentro dela um all star. Além de umas roupas não tão limpas. Nos bolsos, um folheto de uma loja de malhas, outro de um político, um trocado e uma das mãos. Seus chinelos vão acumulando a poeira da rua, entre os dedos, uma crosta negra se instala.
O corpo vai tomando consciência de si, sob a camisa os pêlos tem movimento. As pálpebras se movem voluntariamente, palpitar do sangue é ouvido atenciosamente. Cores se misturam, Coceiras vão relembrando infâncias, toques e gestos de outros são reconhecidos em si mesmo. A pele toca o ar, o ar que já não está lá. A temperatura variou bastante tão de repente...
Um amigo chama de um bar, a cerva entra doce. Toda a experiência foi esquecida, mas estará pra sempre latente. Mais um dia pra desabafar.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Eu, Tu, Eles


Eles estão apavorados com o alvoroço! Querem saber o que aconteceu de fato, não parece verdade. Será loucura o que motivou todo o episódio?

Ele já não entende o que o levou a estar ali, mas uma coisa é certa: sua moral depende daquilo. Sem temer o próximo passo ele avança, perdendo a chance de ficar calado. Fala tudo que faltava, perde o juízo, mas se contém no final. O sangue começa a voltar ao normal, seu rosto ainda corado perde a expressão tensa que manteve desde a primeira palavra até se calar mas suas mãos tremem. Sai. Será que foi a coisa certa?

Você acorda no quarto escuro e suas pupilas estão dilatadas. Não se lembra do que houve na noite passada, aliás não faz idéia do que foi a sua vida nas últimas semanas. Tudo parece um sonho. Sua lembrança mais real é a de alguns dias atrás ter entrado meio bêbada comigo numa montanha russa e de ter passado mal durante o circuito. Ainda chegou a beber mais depois de dar umas voltas e melhorar do enjôo, mas a imagem do resto não fica nítida na sua mente agora. Você levanta e sente um ardor nos cantos da barriga e se dá conta que precisa urgentemente ir ao banheiro. Sua voz é rouca quando bate de cara em uma parede, onde você está?

Nós dormimos juntos na noite passada, você disse que estava louca e eu que estava amando. O beijo durou uma eternidade até a loucura me tomar conta e você se afogar em paixão. Tivemos certeza que iria durar um bom tempo essa viagem. Mas afinal, quando teremos outra chance de nos ver?

Vocês temem pelo presente e eu pelo passado. As suas vidas foram divididas em outra ocasião, não fazem mais um casal. Suas rotinas burocráticas, seus costumes patéticos, seu amor maquinal não têm lógica para mim. Onde um dia houve carinho, eu vejo só remorso e culpa. Vocês perderam contra si mesmos, é a verdade, sabe... Vieram me conhecer sem terem coragem de achar que sua relação estava morta. Não era o momento certo de eu entrar na sua vida?

Eu vivo como a escória da cidade. Quem passa por mim, ou vira a cara ou se mostra interessado. Essa é a minha vida, tive escolhas, preferi esta. Mas como iria adivinhar o futuro, saber de você, meu amor, saber que um dia minha vida iria virar ao contrário? Eu vivo da minha saúde, sou atraente, forte, sagaz. Foi o que aproximou vocês. Mas essa rotina não me agrada, vi logo que não seria a minha praia. Você estava linda e carente, ele com receio e curioso. Mas isso seria só aquela noite. Seus afazeres enredaram vocês e eu me vi só, não foi a mesma coisa nas noites seguintes. Como fui me envolver dessa forma?


Mas o acaso me foi justo, colocou você na minha frente, ruborizando ao me reconhecer. A noite foi maravilhosa, mas você sentiu culpa e aí eu lhe propus. Viajamos, fugimos e voltamos. Te deixei no meu quarto, no centro e fui buscar minhas coisas no trabalho. Ele estava lá, com cara de corno, ficou lívido quando me viu. Falou, falou e falou, nada que pudesse curar seu coração partido. Senti pena mesmo. Quer dizer, até ter percebido que ele ainda me deu uma olhadela antes de sair da pista. Todos atordoados, deixei que acreditassem no que queriam, saí também. No caminho pra casa você vem na direção oposta, um casaco meu seus jeans molhados, cara de ¨o que vou falar¨. Facilito pra você, começo eu a conversa. Digo tudo o que penso e espero sua resposta, você olha nos meus olhos indecisa, não me segurei, na frente de quem fosse, dei-lhe um beijo, apesar de eu ainda estar duvidosa. Quem diria?

domingo, 10 de maio de 2009

Fora Daqui

Sabe cantar, sabe escrever; só não sabe viver. Farrapos almejantes presos num varal, dentro do peito aberto e manchado, extenso e sangrado. Em tudo mais que se possa mover, ou perder... Há a utopia da palavra, embolia da superstição.

Todo amor preso num porão de vento, sem um só olhar atento. Mas o que dizer com palavras tolas, se não sente comiseração ao estender a emoção até uma tensão absurda?

Complexo de médio. Sem pular obstáculos. Sem correr para além. Segue um sonho moldado pela realidade que convém. Só teria alguma chance se estivesse seguro,
se estivesse crescido,
se estivesse maduro,
se tivesse então lido
o livro sobre o escuro.
Se estivesse tão forte,
se não estivesse aos cortes,
em frangalhos tão puros.


Sente inveja da dor suportada, da foda mal dada, do carinho tão tenro dessas mãos adestradas.

Do entardecer...

Do entardecer...

Ao amanhecer

Ao amanhecer

Modos Gregorianos