sexta-feira, 17 de julho de 2009

Existo,logo penso

Hoje eu tive vontade de pensar sem palavras. Queria simplesmente sentir o mundo diretamente, sem ter que passar pela lógica, pelo formalismo do raciocínio. Não pude, entretanto. Todas as idéias e percepções possíveis estão fadadas a passar pelo filtro desses sons em que aprendemos a nos tornar ligados intrinsecamente.
Essa prisão na qual estou encarcerado é limpa e clara, tenho tudo o que quero para sobreviver e até para aproveitar algumas coisas prazeirosas. Mas o que há por trás dessa porta lacrada, que não posso nem poderei ver? Tudo o que se pode inventar com as palavras não parece muito quando se imagina o que existe de fato. Experimentar em primeira pessoa, alma a flor da pele, nem um milímetro desligado do "fora", sentir-me um só com o resto e não essa separação orfã à qual fui sujeito.
Não há alternativas nesse caso, somos fadados a pensar, e pensar sempre, a todo momento, compulsivamente, transbordando argumentos, contra-argumentos, frases, falas, particípios, sujeitos, palavras sempre. A loucura é às vezes concebida como falta de lógica, ou uma lógica distorcida. Penso que não. Ela é só o pensamento em excesso. Perde-se nas idéias, foge do mundo real do mundo sensível do qual já nem estamos tão próximos naturalmente. Se o louco fugisse no entanto da lógica, ah como seriam privilegiados. Este é o louco romantizado que achamos atraente. Esta é a loucura que achamos que está presente nos mendigos de rua, nos artistas mais afetados, nas pessoas à margem da sociedade.
Isto não existe, pena.

Lábios Rasgados

Huum... paixão violenta!

domingo, 12 de julho de 2009

Receita de Domingo à noite

- Fique um fim de semana sozinho em casa;
- Coma o arroz que sobrou de sábado no almoço,sem deixar para a janta;
- Abra a geladeira durante a tarde toda, achando que vai encontrar alguma coisa que não seja feijão e o frango ensopado de sexta, talvez de quinta;
- Frite um ovo às 18:00hs;
- Esteja morto de fome meia hora depois;
- Lembre-se às 21:30hs que você tem guardado no armário da cozinha um pacote de miojo;
- Pegue o frango na geladeira, despeje-o gelado (o molho dele deve estar em estado de gel, parecendo geléia de mocotó ou algo pior) no prato usado no almoço;
- Use a panela onde estava o frango para ferver água;
- jogue o compensado de massa, o kinojo, na panela, espirrando água fervente no próprio braço;
- Pense em fazer o melhor prato possível com o que tem, e faça o pior:
- Jogue fora um pouco da água;
- Ponha por cima no macarrão o frango que estava no prato;
- Deixe cozinhando mais um pouco, pensando em como deve ficar bom um macarrão com franguinho bem temperado;
- Abra a panela e perceba que era pra ter jogado mais água fora, ainda mais porque o molho do frango agora também se liquefez;
- Sinta-se orgulhoso por nem ter pensado no feijão já citado ao preparar a refeição;
- Desconsiderando todo o bom senso, despeje todo o conteúdo da panela no prato, ao invés de na lixeira;
- Deixe transbordar na pia um pouco da água de óleo em que se transformou o molho;
- Coma e perceba que uma canja de frango velho com miojo não fica de todo mal, exceto pelo fato que você fez demais, enjoou e pra disfarçar, abriu a página do seu blog para escrever a primeira coisa que viesse na cabeça: tal receita.

P.S.: Essa é a receita tradicional. Para dar um toque especial, continue escrevendo mais um pouco até a lavagem esfriar e sirva aos cachorros que, coitados, estão farejando o ar desde que você começou tudo isso.
Segunda-feira, pela manhã, lembre-se de ir limpar o possível vômito dos cães. A lixeira era a melhor opção, realmente.

sábado, 11 de julho de 2009

Quem sabe?

Poderia ir pra longe
Quem sabe
Ir pra londres, viajar
Ver o frio
Ver os outros, quem sabe

Quem sabe ser também
Um ser de grandes forças
Grandes braços pra alcançar
Uma nova lembrança
Onde estão outros sonhos
Uns de medo, uns de desejo
Quem sabe?

Tomo um cálice
Dessa bebida servida
Com classe
Com ternura
Feita pra mim
Escura
Beber de tudo
Como o fim do mundo
Que engole
Oceanos, terras e ares

Quem sabe viver de uma vez só?

Como quem não tem o que perder
De uma vez absoluta, absurda
Sem razão, motivo ou propósito
Feito um furacão
Que devora o mundo
Parecendo o fim de tudo

Quem sabe criar, mudar, volver e ficar?

Mostro as cartas dos outros
Mostro a mentira lavada
Escorrida
Mostro o que há atrás e ainda
Não mostro o que quero

Quem sabe um dia saber um pouco?

Tendo as pupilas entornando paixão
Vendo e revendo meus melhores dias
Acabando com todas as ilusões que fiz
E sobrevivendo

Quem sabe morrer feliz?

Partir daqui, ser um monstro
Um Balão, uma abelha, um papagaio
Um torresmo de esquina
Um átomo só

E eu sei?

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Encontrei o Jazz numa sala de espera. Como sempre, sua cara era a do século 20, na verdade o meu século. No ato de espera, não ouço palavras, escrevo-as então no caderno. O fato presente se mantém inalterado. O som ambiente são vozes, mas não palavras, não as ouço, suponho que estão sendo usadas somente. Som ambiente e música ambiente, eu à espera, o mundo ainda anda.
Você está parado observando Miró, algo rasgante para o seu dia-a-dia. Está desesperado por seguir em frente sem saber pra onde. dezenas de metros te separam da rua, está alto, você sabe, mas não concebe de fato a situação. Duas plantas superficiais te fazem compania, no vaso e no quadro, outro que não o Miró. Em outra planta você se encontra, na planta do prédio em que você está. E a planta do pé que encosta na meia que encosta no tênis que encosta no carpete que encosta no piso que faz divisa com o teto, que por sua natureza, encosta no ar que alguém respira, ou não, por não estar presente, ou vivente. As pessoas morrem, você sabe, mas não concebe de fato, uma pode pode estar morta agora abaixo de você e você sem se dar conta.
Estamos aqui no mesmo lugar na mesma sala, a esperar conforme o ambiente se chama, sala de espera; Você a ler, cética, eu a escrever, insano, louco. Eu querendo ter mais uma palavra, você querendo me ter.

O louco sou eu
O louco é você
Uma cadeira vazia
Na outra dividimos
Um corpo só.

..continuo sozinho, à espera. jazzportapessoasdoutorcabeçacadernopalavrasmentementirassozinhocadeirasinsanocarpetecoçeiramaçanetaplantamãosmaneiras vou sair daqui enquanto posso

Do entardecer...

Do entardecer...

Ao amanhecer

Ao amanhecer